domingo, 11 de maio de 2014

[CRÔNICA] - De volta ao Orkut

Meu primeiro contato com a internet foi em 2004. Apesar de ter um computador em casa há algum tempo e conviver com meu pai trabalhando diariamente nele, meus interesses eram outros. Afinal, saudosismos à parte, eram outros tempos - conectar a rede era uma tarefa cara e para finais de semana (além de ocupar o espaço do indispensável telefone fixo). Não lembro exatamente quais eram minhas pretensões nos primeiros acessos, mas não tardou até que me encontrasse acessando sempre que pudesse o Orkut – e assim seria por muito tempo.
         Criado em janeiro de 2004 pelo turco Orkut Büyükkökten (que lhe empresta o nome), o Orkut visava, primeiramente, o mercado americano no crescente fenômeno das comunicações digitais. Seis meses depois, contudo, o Brasil se torna líder em acessos e de lá nunca mais sai. Durante seis anos foi a grande rede social do país, chegando ao ponto de o Google (empresa que o opera) transferir, em 2008, o controle do site da Califórnia para Belo Horizonte. À medida que cada vez mais pessoas acessavam a internet, acessavam, invariavelmente, o Orkut. Sou parte dessa geração. Não é exagero dizer que uma parte do que sou hoje foi moldada ali, naqueles fóruns e páginas azuladas. Nos últimos anos, contudo, ascendeu e se consolidou outra rede social azul na preferência brasileira e mundial. Rei morto, rei posto – o que fora rotina viera à ruína. 
            Acessei o Orkut novamente na última semana. A primeira sensação que se tem é de desolação. Um amontoado de propagandas e links duvidosos dão bem a dimensão do que o site é nos dias de hoje. Contudo, uma exploração um pouco mais detalhada traz a inevitável nostalgia. Há ali uma verdadeira memória de um período longo de minha vida. Revi, por exemplo, fotos de quando troquei de colégio, conversas que tive sobre a Libertadores de 2009 com um amigo e o que escrevi para desejar feliz aniversário à menina que viria a ser minha namorada. Quatro anos atrás.
         Apesar da franca decadência, o Orkut ainda registra 17 milhões de visitantes por ano no Brasil, número bastante considerável. O que ainda o mantém ativo são as comunidades. Na maior comunidade do Grêmio no site, por exemplo, o fórum continua com diversas postagens diárias sobre tópicos referentes ao time.  Além das esportivas, tradicionalmente mais frequentadas, outras de assuntos específicos e de suporte tem seus membros constantes. Ao encerrar minha visita, decidi arriscar: criei um tópico para criticar as recentes atuações de Barcos com a camisa tricolor. Não é que acabei passando o resto da noite envolvido nela?
         Infelizmente, não há volta para o Orkut. Em tempos em que até mesmo o Facebook dá sinais de fragilidade, esperar que a rede social “brasileira” volta a representar o que um dia representou é ilusão. Apesar de tudo, o site ainda vale a visita. Não para encontrar as novidades que movem o mundo real e digital, mas sim para encontrar consigo mesmo, com o que você já fora. As vezes, olhar pra trás também é uma boa pedida.

-Lucas Panfolfo-

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