Ser jornalista é uma tarefa
que exige responsabilidades. Afinal, o profissional é, segundo o dicionário
Priberam, por definição, "aquele que tem por ofício trabalhar no domínio
da informação" e, por convenção popular, aquele que interpreta e transmite
os fatos ao redor do mundo. Se os jornalistas têm tamanho compromisso com a
sociedade, imagine coordenar uma equipe deles e ser responsável pela produção
da notícia no maior veículo de comunicação da região sul do Estado. Eis o
trabalho de Pablo Rodrigues, editor-chefe do jornal Diário Popular. "São
mais de vinte mil exemplares por dia. Então a gente sabe que tudo que escreve
vai ter uma repercussão enorme, e isso, ao mesmo tempo em que assusta,
estimula. Uma hora as pessoas vão discordar, outra hora concordar, mas a
responsabilidade é sempre grande, pelo papel social que o jornal
representa". Numa tarde chuvosa de segunda-feira, Pablo recebeu a equipe
do blog Olhar Digital para conversar sobre a sua vida profissional e sua
visão sobre o jornalismo como um todo.
Pablo desde cedo despertou
interesse pela leitura e pela escrita, e esse interesse o fez procurar por uma
profissão que o fizesse desenvolver tais técnicas. Mas, além disso, uma
profissão que o fizesse ter contato com o mundo. "Acho que o jornalismo
tem esse caráter de fazer encontrar com as pessoas. Isso te gera dúvidas, te
gera inquietação, te gera vontade de botar isso no papel, de ser confrontado
com o que é a realidade" explica o jornalista, graduado pela Universidade
Católica de Pelotas. Por afinidade, logo pendeu para a área do impresso e é ali
onde gosta de trabalhar até hoje. No cargo de editor-chefe do Diário desde 2006, um dos principais
desafios enfrentados na construção de um jornal privado, nos conta, é conciliar
o compromisso com a sociedade e os interesses econômicos que o mantém. “Existem
situações em que os dois lados podem entrar em conflitos, e realmente entram
bastante. A maioria das empresas jornalísticas são privadas, mas o olhar do
jornalista precisa ser necessariamente público, e aí já há um conflito de
essência”. A pressão, ressalva Pablo, “sempre vai existir, e a gente na
faculdade tem um pouco de dificuldade de entender isso, achando que o
jornalismo sempre ‘vai vencer de uma maneira mágica’. Ao contrário, o
jornalismo vai do diálogo, do convencimento, e uma hora pode perder. Esse
dilema prático é o que é complicado”.
Em época em que a internet
destoa como grande meio de comunicação e os veículos tradicionais perdem parte
de sua influência, são necessárias adaptações. O Diário
Popular mantém um site com profissionais exclusivos para a edição online, tentando
a difícil tarefa de integrar as diferentes mídias. “É um pouco difícil fazer,
por exemplo, os jornalistas mais velhos perceberem a importância da internet
nos dias de hoje, e não ver o profissional do digital como um concorrente. Nós
conseguimos fazer, nos últimos anos, a internet ter uma espécie de vida
própria, e já se rompeu a ideia inicial de que o impresso iria perder com a
web” destaca Pablo, que, ao mesmo tempo em que vê com bons olhos novos fenômenos
advindos da rede, como a cobertura dos protestos de junho de 2013, também
guarda algumas ressalvas. “Acho que temos que pesar bem o que é jornalismo e o
que não é jornalismo. Parece que tendo um blog pra falar sobre determinados
assuntos já estou fazendo jornalismo, e o jornalismo me parece mais sério do
que algumas coisas que estão por aí”. À medida em que a informação circula mais
rápido, aumentam também as chances de incorrer a erros, como o recente caso do
jornalista Mário Sérgio Conti, que entrevistou um sósia do técnico da seleção
brasileira Luiz Felipe Scolari achando que era o próprio, exemplifica o
editor-chefe. “Uma piscada que você der pode ocorrer um erro grande, e o
jornalista não pode falar sobre o que não sabe. Tudo é fruto de esforço, de
pesquisa”.
Homem
de convicções firmes e bem argumentadas, Pablo Rodrigues acumula, ao longo da
carreira, algumas realizações pessoais, como atuar na promoção da cultura da cidade
em que vive e da literatura nacional. Ele colaborou, por exemplo, em pesquisas
que revelaram coisas inéditas sobre a vida e a obra de escritores como Monteiro
Lobato e o pelotense João Simões Lopes Neto. Contudo, dentre seus maiores
trabalhos jornalísticas, considera o esperar e noticiar a chegada de uma fumaça
branca – a fumaça a sair da Capela Sistina , anunciando Jorge Mario Bergoglio
como novo líder da Igreja Católica, no início de 2013. “Estar com seis mil
jornalistas do mundo inteiro num lugar pequeno, como o Vaticano, respirando
aquela mudança realmente não tem preço. È uma experiência que o jornalismo me
proporcionou e que eu vou levar para a vida inteira”. Muito além das técnicas
de produzir a notícia, o jornalista não deve, ressalva Pablo, nunca perder o
contato com a cultura. Contato esse a ser incorporado na forma de bons filmes,
música e, principalmente, muita leitura. “O conselho que eu deixaria é pra não
se fixar tanto em jornalismo e sim em humanidades, afinal, o jornalismo trata
de humanidades”.
Sobre
qual é a função do jornalista, enfim, Pablo é sucinto em refutar é a ideia de
que cabe ao profissional mostrar como a realidade é. Afinal, “a vida é muito maior
do que o jornalismo pode dar conta”, e é bom que seja assim. Ser jornalista,
pelo contrário, é ser de carne e osso e, chegando o mais próximo possível da
realidade, tentar construir uma comunidade melhor para vivermos. Ser jornalista
é, acima de tudo, se confrontar com o mundo e consigo mesmo.
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