segunda-feira, 7 de julho de 2014

Entrevista: Pablo Rodrigues, editor-chefe do Diário Popular




Ser jornalista é uma tarefa que exige responsabilidades. Afinal, o profissional é, segundo o dicionário Priberam, por definição, "aquele que tem por ofício trabalhar no domínio da informação" e, por convenção popular, aquele que interpreta e transmite os fatos ao redor do mundo. Se os jornalistas têm tamanho compromisso com a sociedade, imagine coordenar uma equipe deles e ser responsável pela produção da notícia no maior veículo de comunicação da região sul do Estado. Eis o trabalho de Pablo Rodrigues, editor-chefe do jornal Diário Popular. "São mais de vinte mil exemplares por dia. Então a gente sabe que tudo que escreve vai ter uma repercussão enorme, e isso, ao mesmo tempo em que assusta, estimula. Uma hora as pessoas vão discordar, outra hora concordar, mas a responsabilidade é sempre grande, pelo papel social que o jornal representa". Numa tarde chuvosa de segunda-feira, Pablo recebeu a equipe do blog Olhar Digital para conversar sobre a sua vida profissional e sua visão sobre o jornalismo como um todo.
Pablo desde cedo despertou interesse pela leitura e pela escrita, e esse interesse o fez procurar por uma profissão que o fizesse desenvolver tais técnicas. Mas, além disso, uma profissão que o fizesse ter contato com o mundo. "Acho que o jornalismo tem esse caráter de fazer encontrar com as pessoas. Isso te gera dúvidas, te gera inquietação, te gera vontade de botar isso no papel, de ser confrontado com o que é a realidade" explica o jornalista, graduado pela Universidade Católica de Pelotas. Por afinidade, logo pendeu para a área do impresso e é ali onde gosta de trabalhar até hoje. No cargo de editor-chefe do Diário desde 2006, um dos principais desafios enfrentados na construção de um jornal privado, nos conta, é conciliar o compromisso com a sociedade e os interesses econômicos que o mantém. “Existem situações em que os dois lados podem entrar em conflitos, e realmente entram bastante. A maioria das empresas jornalísticas são privadas, mas o olhar do jornalista precisa ser necessariamente público, e aí já há um conflito de essência”. A pressão, ressalva Pablo, “sempre vai existir, e a gente na faculdade tem um pouco de dificuldade de entender isso, achando que o jornalismo sempre ‘vai vencer de uma maneira mágica’. Ao contrário, o jornalismo vai do diálogo, do convencimento, e uma hora pode perder. Esse dilema prático é o que é complicado”.
Em época em que a internet destoa como grande meio de comunicação e os veículos tradicionais perdem parte de sua influência, são necessárias adaptações. O Diário Popular mantém um site com profissionais exclusivos para a edição online, tentando a difícil tarefa de integrar as diferentes mídias. “É um pouco difícil fazer, por exemplo, os jornalistas mais velhos perceberem a importância da internet nos dias de hoje, e não ver o profissional do digital como um concorrente. Nós conseguimos fazer, nos últimos anos, a internet ter uma espécie de vida própria, e já se rompeu a ideia inicial de que o impresso iria perder com a web” destaca Pablo, que, ao mesmo tempo em que vê com bons olhos novos fenômenos advindos da rede, como a cobertura dos protestos de junho de 2013, também guarda algumas ressalvas. “Acho que temos que pesar bem o que é jornalismo e o que não é jornalismo. Parece que tendo um blog pra falar sobre determinados assuntos já estou fazendo jornalismo, e o jornalismo me parece mais sério do que algumas coisas que estão por aí”. À medida em que a informação circula mais rápido, aumentam também as chances de incorrer a erros, como o recente caso do jornalista Mário Sérgio Conti, que entrevistou um sósia do técnico da seleção brasileira Luiz Felipe Scolari achando que era o próprio, exemplifica o editor-chefe. “Uma piscada que você der pode ocorrer um erro grande, e o jornalista não pode falar sobre o que não sabe. Tudo é fruto de esforço, de pesquisa”.
            Homem de convicções firmes e bem argumentadas, Pablo Rodrigues acumula, ao longo da carreira, algumas realizações pessoais, como atuar na promoção da cultura da cidade em que vive e da literatura nacional. Ele colaborou, por exemplo, em pesquisas que revelaram coisas inéditas sobre a vida e a obra de escritores como Monteiro Lobato e o pelotense João Simões Lopes Neto. Contudo, dentre seus maiores trabalhos jornalísticas, considera o esperar e noticiar a chegada de uma fumaça branca – a fumaça a sair da Capela Sistina , anunciando Jorge Mario Bergoglio como novo líder da Igreja Católica, no início de 2013. “Estar com seis mil jornalistas do mundo inteiro num lugar pequeno, como o Vaticano, respirando aquela mudança realmente não tem preço. È uma experiência que o jornalismo me proporcionou e que eu vou levar para a vida inteira”. Muito além das técnicas de produzir a notícia, o jornalista não deve, ressalva Pablo, nunca perder o contato com a cultura. Contato esse a ser incorporado na forma de bons filmes, música e, principalmente, muita leitura. “O conselho que eu deixaria é pra não se fixar tanto em jornalismo e sim em humanidades, afinal, o jornalismo trata de humanidades”.
            Sobre qual é a função do jornalista, enfim, Pablo é sucinto em refutar é a ideia de que cabe ao profissional mostrar como a realidade é. Afinal, “a vida é muito maior do que o jornalismo pode dar conta”, e é bom que seja assim. Ser jornalista, pelo contrário, é ser de carne e osso e, chegando o mais próximo possível da realidade, tentar construir uma comunidade melhor para vivermos. Ser jornalista é, acima de tudo, se confrontar com o mundo e consigo mesmo.  

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